o ano das máximas históricas do Bitcoin e da esperança de novas escaladas em 2022

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Existem diversas maneiras de se contar uma história. No caso da trajetória do Bitcoin (BTC) ao longo de 2021, as narrativas recentes se concentram nos dias depois do crash no mercado de criptomoedas de 4 de dezembro, em ‘detrimento’, de forma geral, do período de janeiro a novembro. Entretanto, este intervalo possibilita qualificar 2021 como o ano dos recordes do BTC, quando a principal criptomoeda do mercado saiu de um suporte de US$ 29 mil e esbarrou na resistência dos US$ 69 mil. 

 

 

 Apesar de expressiva, a escalada do Bitcoin, por si só, talvez não seja a maior conquista para o mercado de criptomoedas. Porque os números e os gráficos mostram valores e como eles se comportam ao longo do tempo. Mas no caso do Bitcoin, eles refletem ainda o recado que os criptoativos deram ao mundo, aos governos e aos modelos tradicionais. 

 

 

A humanidade parece ter chegado a um momento histórico, em que as amarras dos sistemas econômicos começaram a ser desatadas pela tecnologia. As minorias se juntaram em grandes comunidades e as possibilidades se multiplicaram a cada transação, a cada novo contrato.

 

Desempenho anual BTC/USD. Fonte: CoinMarketCap


Altas de janeiro a maio

 A maior criptomoeda do mercado experimentou pouco mais de quatro meses de altas significativas em relação ao seu valor negociado no fechamento do ano anterior. Ao mesmo tempo em que a cotação do BTC também demonstrava ser influenciada por acontecimentos políticos e econômicos ao redor do mundo, o criptoativo ganhava status de refúgio para investidores receosos com as finanças mundiais. Isso porque o mundo apenas começava reagir aos efeitos da pandemia, a vacinação contra a Covid-19 engatinhava e em vários países sequer tinha começado, como foi o caso do Brasil

 

 

Diante de uma economia mundial apática, o Bitcoin capitaneava a valorização do mercado de criptoativos e reforçava a popularidade do setor. O que já podia ser percebido pela multiplicação de carteiras, pelo surgimento de diversos projetos e pelos volumes crescentes alocados pelos investidores. 

    O BTC começou o primeiro dia de 2021 ligeiramente acima do suporte de US$29 mil de acordo com o gráfico da CoinMarketCap. Na ocasião, o Brasil vivia a expectativa de recuperação econômica com aumento do Produto Interno Bruto (PIB), juros baixos e inflação contida, embora o desemprego na época demonstrasse que não iria ceder.

 

 

 Nos Estados Unidos, o democrata Joe Biden assumia o país com a missão de recuperar a economia que registrava a maior queda desde a Segunda Guerra Mundial. Uma retração de 3,5% por causa da epidemia de Covid-19, além da inflação crescente e do desemprego. A Europa, além dos efeitos econômicos em sua economia, vivenciava a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o Brexit. 

Enquanto a recuperação econômica mundial não passava de uma promessa, o Bitcoin se valorizava e fazia do mercado de criptomoedas uma espécie de eldorado para pequenos e grandes investidores. O que também começou a acirrar projetos relacionados à regulamentação do setor, em diversos países. Para se ter uma ideia deste crescimento, no dia 7 de janeiro a criptomoeda já era negociada a quase  US$ 40,8 mil  imprimindo uma alta de quase 40% em uma semana. 

 

 

Os meses seguintes não foram diferentes: o Brasil plainava sobre uma projeção de crescimento de 5,3% no PIB, enquanto as exportações registravam aumento de 36%. Por outro lado a indústria nacional dava sinais de desaquecimento, com retração de 3,3% no faturamento, e perda salarial média de 1,8%. 

Notícias vindas da Europa também davam pistas de que a pandemia, potencializada por novas cepas da Covid-19, não iria ceder. No final de fevereiro, a seguradora de crédito Euler Hermès emitiu um comunicado dizendo que o continente estava com cinco semanas de atraso em relação à sua meta de vacinação de 70% da população antes do término do verão. 

 

 

Nos Estados Unidos os títulos do tesouro (Treasuries) de dez anos registravam alta anual de 1,54%, maior percentual dos 12 meses anteriores. A taxa de desemprego caia para 6,2%. Perspectivas de mais estímulos fiscais do governo Joe Biden na economia reforçavam a ideia de recuperação econômica, mas essa rapidez também fez aumentar nos analistas o temor pela disparada da inflação. 

Em 20 de fevereiro o Bitcoin batia novo recorde, sendo cotado acima dos  US$ 57,5 mil. Nos sete dias seguintes a criptomoeda se retraiu verticalmente até ser negociada em torno dos US$ 45,1 mil em seu fechamento.  A partir daí o criptoativo voltou a registrar um forte movimento de alta que resultou em uma nova máxima, no dia 12 de março, quando o BTC foi cotado a mais de US$ 61,2 mil. 

Um mês depois, no dia 12 de abril, o Bitcoin voltou a quebrar seu recorde ao ser transacionado por mais de US$ 63,5 mil. A criptomoeda perdeu um pouco de força ao longo do mês, chegando a ser negociada a aproximadamente US$ 49 mil no dia 24 de abril. Mas voltou a se recuperar acima do suporte de US$ 52 mil, onde se manteve até o dia 10 de maio, sendo negociada pouco acima dos US$ 56,7 mil de acordo com o gráfico. 

 

Desempenho BTC/USD (jan.- maio). Fonte: CoinMarketCap

 

Elon Musk e a mineração de Bitcoin

Declarações do magnata Elon Musk no dia 12 de maio caíram como uma bomba no mercado cripto e impuseram ao Bitcoin a queda mais significativa da criptomoeda em 2021 até aquele momento. No Twitter, o fundador e CEO da Tesla disse que a empresa não aceitaria mais pagamentos em BTC, em retaliação ao que ele chamou de “uso crescente de combustíveis fósseis como o carvão na mineração e operações de Bitcoin.” 

As declarações do megaempresário despertaram reações, como a do co-fundador da Morgan Creek Digital, Anthony Pompliano, que disse: “Elon… Você sabe que 75% dos mineradores usam energia renovável, certo? Quantas vezes essa história de energia foi desmascarada.” Entretanto, o estrago já estava feito. 

 

Após a publicação do dono da Tesla, o BTC fechou em queda verticalizada, caindo de cerca de  US$ 54,6 mil  para  aproximadamente US$ 46,9 mil e continuou com tendência de baixa até encontrar um suporte de US$ 34,6 mil no dia 28 de maio, de acordo com o mapeamento. 

O Bitcoin esboçou reação já no início do mês seguinte, quando chegou a ser negociado acima dos  US$ 39,2 mil.  Apesar da declaração bombástica de Musk, o movimento no mercado de criptomoedas ainda se animava com o sentimento de retomada da economia mundial, arrastada por indicadores otimistas da atividade econômica dos Estados Unidos e de queda no desemprego.

 

 

No Brasil, o início do processo de privatização da Eletrobrás também motivava os investidores. Mas a maior economia sul-americana também dava pistas de que a ‘história do futuro promissor’ não seria bem assim.  Em junho o Comitê de Política Monetária (Copom) elevava em 0,75% a taxa de juros básica (Selic) que chegava a 4,25% naquele momento. Um sinal clássico de que o fantasma da inflação voltava a assombrar o Brasil. 

Os números também confirmavam a disparada dos preços nos Estados Unidos e na Europa. Mas outra notícia vinda do Velho Continente preocupava os investidores. No caso, uma reunião de representantes do G7 em Londres que definiu uma ‘reforma tributária global’ com novas regras de tributação para as empresas multinacionais. Na ocasião, os países membros se comprometeram a impor uma alíquota mínima de 15% sobre grandes empresas de tecnologia. Dois dias após a reunião, no dia 7 de junho, o BTC amargava nova retração, sendo cotado por pouco mais de  US$ 33,4 mil. 

 

 

O Bitcoin voltou a imprimir um movimento de alta até a metade do mês, fechando pouco acima dos US$ 40,4 mil no dia 14, quando voltou a cair. Nos cinco dias seguintes, o BTC encontrava novo suporte na casa dos US$ 31,6 mil. Depois disso, ao longo de mais de 30 dias, a criptomoeda operou com certa lateralidade, sempre abaixo da resistência de US$ 36 mil. No dia 24 de julho o BTC demonstrava significativa reação, segundo o mapeamento. 

 

Desempenho BTC/USD (maio-julho). Fonte: CoinMarketCap

 

Novas altas, novos recordes

O Bitcoin continuou em um deslocamento predominantemente ascendente até o dia 5 de setembro, dia em que chegou a ser negociado pouco acima dos US$ 52,6 mil conforme o gráfico. Foi nesta época que a maior incorporadora imobiliária da China, Evergrande Group, entrou no radar financeiro. Em 8 de setembro, por exemplo, a Fitch Ratings falava em alta probabilidade de calote por parte da gigante imobiliária chinesa. Na ocasião a empresa admitiu a possibilidade de uma inadimplência de cerca de US$ 300 bilhões por não conseguir vender propriedades ou outros ativos a tempo de honrar seus compromissos. As notícias que vinham da China interromperam o movimento altista do Bitcoin durante praticamente todo o mês de setembro, quando chegou a encontrar suporte na casa dos US$ 40 mil. 

 

 

Ainda que estivesse sob a retração provocada pelo possível calote da empresa chinesa em seus credores, o BTC parecia abrir outras frentes – ou atrair novos olhares. Também em setembro, El Salvador adotava o  Bitcoin como moeda legal no país. O que foi visto como um marco para o mercado de criptoativos e, principalmente, um recado para o mundo. Isso porque um dos principais alicerces para a decisão do país latino-americano seria a de que o BTC não carregaria o fardo da desvalorização frente ao dólar americano, como acontece com as moedas dos países da região.

 
Rebocado pelo Bitcoin, o mercado de criptomoedas já havia se popularizado entre de latino-americanos muito antes da decisão do governo de El Salvador. Isso porque o aumento da circulação do BTC e altcoins na região é objeto de observação e diversas pesquisas científicas nos últimos anos. Entre estes observadores estão grandes empresas de tecnologia que já anunciaram aportes financeiros volumosos para suas empresas na América Latina.  

 

No final de setembro, o Bitcoin começou mais uma escalada agressiva. Em 18 de outubro o criptoativo quebrou o recorde de abril e rompeu a resistência dos US$ 64 mil, chegando próximo dos US$ 66 mil no dia seguinte. Após um movimento baixista de uma semana que o aproximou do suporte de US$ 58 mil, o BTC fechou o mês de outubro com mais um movimento de alta. O que resultaria em sua máxima histórica na casa dos US$ 68,6 do dia 7 de novembro, permanecendo durante cinco dias acima do suporte de US$ 65 mil. 

O recorde histórico do BTC foi interpretado por muitos analistas como uma demonstração de confiança e otimismo dos investidores em relação ao mercado de criptomoedas. Isso porque a máxima do Bitcoin aconteceu quatro dias depois de o Fed (Federal Reserve System) anunciar a redução em suas compras mensais de títulos, o que representava um corte de US$ 15 bilhões nos US$ 120 bilhões, na ocasião. 

 

Desempenho BTC/USD (julho-nov.). Fonte: CoinMarketCap

 

O crash e a berlinda do Bitcoin

O gráfico mostra um movimento baixista que se acentuou em meados de novembro, ainda que esta retração tenha sido contida nos três últimos dias do mês. Na ocasião, o mundo entrava em alerta com o anúncio da África do Sul à Organização Mundial de Saúde (OMS) da descoberta de uma nova cepa da Covid-19, a variante Ômicron. O que se refletiu rapidamente nos mercados financeiros, entre eles o de criptomoedas, arrastadas para baixo pelo Bitcoin.

 

 

O pior estava por vir: no dia 4 de dezembro o Bitcoin foi abatido por um forte e repentino crash, em decorrência da liquidação de cerca de US$ 1bilhão da criptomoeda, em poucas horas. Para se ter uma ideia do pânico que se instalou no mercado de criptoativos naquele momento, o BTC, que já vinha de uma queda acentuada do dia anterior, perdeu o suporte de US$ 52 mil e mergulhou para baixo de US$ 47 mil. No pior momento do bearish, o valor de abertura de negociação do criptoativo despencou abaixo dos US$ 42 mil durante a sessão. O que chegou a impor ao BTC uma perda de aproximadamente 22%, quase um quarto de seu valor de mercado até então. 

 

 

 De lá pra cá, o Bitcoin vivenciou outros momentos de tensão que despertaram nos analistas a possibilidade de novas quedas, basicamente por causa da aproximação do criptoativo do suporte de US$ 40 mil e de sua dificuldade para alcançar a resistência de US$ 50 mil e até a de US$ 47 mil alguns dias 

 O mau humor repentino do mercado, que arrastou o Bitcoin e a ampla maioria das altcoins, projetou o olhar de muitos analistas para outros criptoativos. Isso porque alguns demonstraram mais resistência para a depressão do mercado. Entre eles algumas criptomoedas calcadas na tecnologia blockchain, consideradas pilares para a construção de um metaverso descentralizado.

 

 

 O comportamento pós-crash destas altcoins foi interpretado por muitos analistas como um novo olhar do mercado, voltado para valorização das tecnologias necessárias para a construção deste novo mundo chamado metaverso.  Neste sentido, a blockchain seria uma espécie de amálgama para as pessoas transitarem neste novo espaço. Porque ela tem ainda o potencial de possibilitar com segurança a posse de patrimônios e a produção no metaverso. Para alguns analistas, estas características colocariam algumas altcoins em vantagem sobre o BTC. 

 

 

O futuro do Bitcoin ajudou alguns traders a arrastarem milhões de pessoas para diferentes análises nas últimas semanas. Mas a trajetória recente do BTC e seus recordes históricos guardam alguns ensinamentos que vão além dos números: o despertar da humanidade para o que pode ser uma nova era. Uma época calcada na tecnologia, na liberdade, na privacidade, na descentralização dos patrimônios, na eficácia, na quebra de velhos paradigmas. O que o Bitcoin conquistou é impagável e seu valor é eterno, e isso não depende de ele alcançar os US$ 100 mil ou sofrer um novo crash. 

 

Desempenho BTC/USD (nov.-dez.). Fonte: CoinMarketCap

 

Desempenho BTC/USD de 30 dias. Fonte: CoinMarketCap

 

 

 

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